Após cirurgia na tireoide, meia do Bahia compartilha experiência com sinceridade e destaca o apoio da família e dos médicos no processo de recuperação
Everton Ribeiro curte família durante recuperação de cirurgia de câncer de tireoide — Foto: Letícia Marques / ge
Foi durante um exame de rotina que o meia Everton Ribeiro, do Bahia, recebeu uma notícia que mudaria completamente sua rotina e sua forma de encarar a vida. O diagnóstico de câncer na tireoide veio após os exames realizados na reapresentação do elenco, logo depois das férias por conta da disputa do Mundial de Clubes.
O jogador contou que o momento inicial foi de choque e medo, mas, com o tempo, a situação acabou se transformando em um período de reflexão, fé e união familiar.
Atualmente em recuperação no Rio de Janeiro, onde passou pela cirurgia há cerca de uma semana, Everton seguirá sob acompanhamento médico por pelo menos mais duas semanas antes de realizar novos exames, que indicarão o próximo passo do tratamento e a previsão de retorno aos treinos.
O atleta afirmou que deseja voltar a Salvador em breve para acompanhar o Bahia de perto na Arena Fonte Nova.
Mesmo com um discreto curativo no pescoço, Everton ainda carrega na memória o susto que viveu. Em entrevista concedida em sua casa, o jogador abriu o coração e reforçou a importância dos cuidados preventivos com a saúde.
— Foi assustador, né? No começo, eu nem falava essa palavra. Câncer. Para mim, é muito forte. A gente sabe que muitas pessoas sofrem, acabam perdendo a vida. Então, quando eu estava lá e recebi esse diagnóstico, foi um baque. Fui para o quarto e acabei chorando sozinho. Depois, liguei para minha esposa para conversar com ela. E, a partir daí, buscar informação, quais procedimentos. Mas até chegar a esse momento foi um caminho longo — contou o jogador.
Segundo a diretora de performance e saúde do Bahia, Natalia Bittencourt, o caso foi identificado a partir do monitoramento rotineiro feito pelo clube:
— A gente tem os exames de rotina, tanto da área médica quanto da área de preparação física, fisiologia e fisioterapia. E com o Everton não foi diferente: ele passou por toda a bateria de exames e, como a gente faz esse monitoramento ao longo de toda a temporada, o exame de sangue foi semestral. A gente conseguiu identificar essas alterações no meio do ano e, então, entender o passo a passo que seria feito — explicou.
Após novas análises e um ultrassom, foram detectados nódulos na região da tireoide. Em seguida, uma punção confirmou o diagnóstico de câncer. O resultado chegou enquanto o jogador estava concentrado para a final da Copa do Nordeste, contra o Confiança, em 3 de setembro.
— Me deixaram à vontade se eu queria viajar ou não. Eu não queria viajar, queria chorar onde tinha que chorar. Mas eu conversei com a Marília (esposa), com os médicos e avisei que ia viajar. De um dia para o outro não ia mudar nada. Fui viajar, e a Marília foi resolver tudo. Foi atrás dos nossos amigos médicos e começou a organizar tudo. Eles (os médicos) nos tranquilizaram. Mas, até chegar neles, a Marília foi muito importante. Ela soube me ajudar no momento mais difícil — desabafou.
A esposa, Marília Nery, com quem Everton está há quase duas décadas, tomou a frente da situação e iniciou o processo de tratamento junto aos especialistas. O casal optou pela discrição, mantendo a notícia restrita a familiares e amigos próximos. O jogador ainda atuou pelo Bahia até o dia anterior à cirurgia — inclusive na vitória sobre o Flamengo.
— Foi um choque. Ele ligou e começou falando que o resultado tinha chegado, e o tempo todo eu esperava ouvir um “Não, tá tudo bem, foi só um susto”. E aí ele falou assim: “Linda, infelizmente, é maligno.” A gente não tem histórico na família, então a gente não tem referência nenhuma. Naquele momento, a gente estava completamente no escuro. E, assim que desliguei o telefone, falei: “Eu tenho que resolver isso. Eu vou dar um jeito de resolver” — contou Marília.
— À noite, a gente já estava em consulta com um dos melhores médicos do Brasil. Ele é uma pessoa mais fechada e foi um momento de muita fragilidade que a gente viveu junto. Não foi fácil lidar com essa informação e viver esse momento. Mas isso aumentou a nossa parceria e hoje a gente pode dizer que a gente venceu — completou.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o Brasil deve registrar cerca de 16,6 mil novos casos de câncer de tireoide por ano entre 2023 e 2025, sendo a maioria em mulheres. A médica Clarissa Baldotto, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, explica que a doença costuma ser silenciosa:
— Na maioria das vezes, ele não dá sintomas. Acaba sendo o que nós chamamos de um achado: você vai fazer um exame de rotina por alguma outra razão e descobre um nódulo na tireoide. O que as pessoas têm que ficar atentas é quando, ao apalpar seu pescoço, sentirem caroços — por exemplo, no pescoço — ou um próprio nódulo nessa região aqui do pescoço, que é a região da tireoide. Esses são sinais de que pode haver algum tumor na tireoide, muito embora eu sempre lembre: a maioria dos nódulos da tireoide encontrados são benignos, eles não são nódulos de câncer.
Durante o processo de recuperação, Everton tem aproveitado o tempo ao lado da família — a esposa Marília e os filhos Augusto, de 7 anos, e Antônio, de 5. O jogador contou como a experiência transformou sua forma de ver a vida.
— Momento de reflexão. A gente reflete. Quando estamos 100% de saúde, a gente esquece detalhes da vida. O mais importante é a saúde. Sem saúde, a gente não consegue alcançar sonhos. Eu tenho minha fé, sei que tudo o que aconteceu é para ver que Deus cuida da gente. Às vezes, a gente é usado sem entender. Agora é curtir a família. A gente vai seguir a vida nos seus altos e baixos. Saber que tenho que estar me cuidando sempre para cuidar desses meninos, da minha esposa, que está sempre ao meu lado me dando forças. E é assim: a gente vai seguir a vida nos seus altos e baixos, mas sempre com muita fé e coragem para enfrentar o que vier pela frente — finalizou o meia.
✦ Fonte – Jogo de Hoje 360°